sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Sem aço, sem capa, sem máscara

Ele cresceu acreditando que o amor verdadeiro viria até ele, não como uma profecia ou uma promessa grandiosa, mas como aquelas músicas que ele ouvia. Mas, ao ver o menino no espelho dar lugar ao homem, descobriu que a vida real tem seus próprios vilões. Nessa travessia, ele descobriu que os verdadeiros vilões são silenciosos: as incertezas sobre o futuro, os medos que surgem na madrugada, os fantasmas das próprias inseguranças. Ninguém contou ao menino que, antes de encontrar um porto, ele teria que atravessar mares inteiros. Que existem medos que não dormem. E que crescer na verdade não é um salto, e sim um susto. 

Ele aprendeu, às vezes da maneira mais difícil, que ser herói não é voar e impedir trem de descarrilar. Não é feito de aço, nem é imune à dor. Ele sangra, se machuca, chora. Mas percebeu que isso não o torna fraco, mas humano. Sua resiliência não está em nunca cair, mas em levantar-se todas as vezes que a vida o derruba, limpando a poeira e continuando a caminhar, mesmo sem capa ou máscara. Hoje ele ainda sente dor, sente medos, inseguranças, enfrenta fantasmas no escuro do seu quarto. O mundo real tem dessas coisas: ele testa, exige, aperta. E o menino que vive dentro dele se encolhe, sem saber se já pode confiar no amanhã. Confiar nas pessoas. 

E, talvez, a batalha mais sutil seja a do tempo. Quando ele olha para a pessoa que ama hoje e enxerga as cicatrizes do passado dela, sente um aperto na garganta. Ele vê os momentos em que ela precisou de amparo e não teve, e um pensamento ecoa: "aquele deveria ter sido eu". Não por ciúme do que foi vivido, mas por um desejo profundo de ter chegado antes, de ter sido ele a segurar aquela mão e evitar aquelas dores antigas. Mas ele sabe que só pôde chegar agora. 

E no meio das ruínas, ele encontra pequenas luzes. Descobre que amar também é aprender, como quem vai tateando uma sala escura até encontrar a porta. Descobre que não precisa ser forte o tempo todo. Que vulnerabilidade não é fraqueza: é humanidade. Mas ele sabe que o tempo tem sua própria sabedoria. Agora, aquele menino-homem está procurando seu lugar no mundo, não mais nas nuvens, mas com os pés firmes no chão. Ele deixou as ilusões para trás para viver o que é real. Ele sabe que a estrada é feita de tentativas, que a vida é, muitas vezes, viver errando até acertar. Correr os riscos, construir a felicidade dia após dia. Porque, no fim das contas, ele entendeu que amadurecer é justamente isso: ter a coragem de ser imperfeito e disposto a tentar de novo e de novo. Ele entende, enfim, que ninguém cresce ileso. Mas crescer também é isso: sobreviver ao que doeu e, mesmo assim, manter o coração quente. O menino ainda mora nele, só que agora o homem é quem segura o leme, com bravura, verdade e uma fé silenciosa de que, apesar de tudo, a vida ainda pode ser bonita.

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